Durante a transmissão, Maduro segurava um item associado a movimentos sociais brasileiros e usou um misto de português e espanhol para reforçar a mensagem. Ele afirmou que a Venezuela enfrenta forte pressão externa e que conta com “povos irmãos” para resistir ao que chama de ameaças contra seu país. O recado, no entanto, foi interpretado como uma tentativa de mobilizar brasileiros a favor de sua administração, algo incomum e considerado imprudente por parte da esquerda brasileira.
Entre apoiadores de Lula, o pedido caiu como um incômodo. Mesmo aqueles que simpatizam com governos de esquerda na América Latina enxergam riscos em participar de atos em defesa de outro país. A preocupação principal é que isso seja usado politicamente pela oposição e gere desgaste para movimentos progressistas no Brasil. Há também receio de que manifestações a favor da Venezuela abram margem para críticas de que setores da esquerda brasileira estariam alinhados com regimes autoritários.
Enquanto setores da esquerda ficaram desconfortáveis, a direita brasileira celebrou a situação. Para políticos conservadores e influenciadores alinhados a essa corrente, o apelo de Maduro foi visto como munição para expor fragilidades do campo progressista. Eles argumentam que o pedido revela vínculos entre parte da esquerda brasileira e o chavismo, algo que sempre foi explorado como ponto de ataque no debate político nacional. A fala de Maduro acabou reforçando narrativas usadas pela oposição para criar desgaste ao governo brasileiro e aos movimentos sociais.
A atitude de Maduro também carrega um aspecto estratégico. Em meio a desafios internos e pressão internacional sobre legitimidade e direitos humanos, a Venezuela tenta ampliar sua rede de apoio na região. Ao se comunicar diretamente com militantes brasileiros, Maduro busca demonstrar que ainda possui respaldo na América Latina e que pode contar com aliados populares, não apenas governamentais. Esse tipo de gesto funciona como forma de tentar equilibrar a imagem desgastada do regime.
No entanto, o efeito pode ser contrário ao desejado. Ao convocar explicitamente o público brasileiro, Maduro provoca tensões diplomáticas. O Brasil tenta evitar atritos com a Venezuela, mas ao mesmo tempo não quer ser palco de manifestações incentivadas por outro governo. Isso coloca o Planalto em uma posição sensível, já que qualquer reação — seja crítica, seja silêncio — pode gerar interpretações políticas.
Além disso, a imagem de Maduro segurando símbolos ligados a movimentos sociais do Brasil fortaleceu debates internos sobre a relação entre esses grupos e governos estrangeiros. Oppositores viram nisso uma prova de alinhamento ideológico, enquanto setores da esquerda tentaram minimizar o gesto.
No fim das contas, o apelo inusitado de Maduro acabou expondo ainda mais as divisões políticas no Brasil. A esquerda se viu obrigada a recalcular sua postura, enquanto a direita aproveitou o momento para reforçar suas críticas. O pedido, que pretendia mostrar união regional, acabou alimentando polarizações e deixando claro o quanto a crise venezuelana ainda influencia o cenário político brasileiro.