A recente decisão do ministro Luís Fux de deixar a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) provocou um verdadeiro redesenho do equilíbrio de poder dentro da Corte — com impacto direto nas relações entre o governo Lula e a oposição.
Sob o pretexto de promover uma “alternância de convivência”, Fux pediu transferência para a Segunda Turma, movimento que, nos bastidores, é interpretado como estratégico. A mudança altera o delicado arranjo político e ideológico que define as votações no tribunal mais poderoso do país.
Segundo avaliação quase unânime entre analistas jurídicos e políticos, o Supremo agora se divide com nitidez inédita: de um lado, uma turma com perfil mais alinhado ao governo Lula; de outro, uma composição mais receptiva às teses da oposição.
A nova configuração do Supremo
Com a saída de Fux, a Primeira Turma passa a reunir nomes de confiança direta do presidente Lula, como Flávio Dino, Cristiano Zanin e, possivelmente, Jorge Messias — caso se confirme sua nomeação para a vaga aberta com a aposentadoria de Luís Roberto Barroso. Completam o grupo Alexandre de Moraes, que conduz o julgamento da chamada Trama Golpista, e Cármen Lúcia, de perfil institucional.
O colunista da Veja, Roberto Pompeu de Toledo, resumiu a mudança como “a criação de uma câmara de gás para a oposição”.
Do outro lado, a Segunda Turma, agora composta por André Mendonça, Nunes Marques, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e o próprio Luís Fux, tende a se tornar um refúgio para o contraditório — um espaço de resistência e contraponto dentro do STF.
Efeitos práticos e bastidores da mudança
A alteração vai além da simples redistribuição de cadeiras. Processos remanescentes da Lava Jato, ainda sob análise, passarão para novos relatores, o que pode resultar em desfechos distintos sob a nova composição.
Além disso, casos sensíveis, como recursos relacionados aos atos de 8 de janeiro e outros temas de forte repercussão política, serão julgados por turmas com visões opostas sobre os limites da Justiça e da atuação política do Judiciário.
Para o jornalista e comentarista Matheus Leitão, do programa Os Três Poderes, trata-se de “uma mudança profunda, com efeito sobre o passado e o futuro do Supremo”.
Fux, ao migrar para a Segunda Turma, leva consigo um olhar mais crítico ao governo, enquanto abre espaço para o Planalto consolidar maioria na Primeira. Oficialmente, o ministro justificou o gesto como ato de cortesia e rotatividade, mas na prática, a movimentação reacendeu a disputa por influência dentro da Corte e deu a Lula a oportunidade de blindar julgamentos estratégicos.
Novo equilíbrio – ou o fim dele
Nos bastidores de Brasília, comenta-se que o clima no Supremo é de “reacomodação”. Já na arena política, o diagnóstico é mais direto: o STF foi redesenhado em silêncio, consolidando um novo equilíbrio interno — ou, talvez, decretando o fim dele.
Com a manobra, o Supremo vive um raro momento de transparência: as linhas ideológicas estão agora traçadas à vista de todos.
De um lado, a turma que fala a língua do Planalto; do outro, a trincheira onde a oposição ainda respira.
Fonte: Veja






















